sexta-feira, 4 de abril de 2008

Editorial Mountain Voices

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Quando conquistas nos trazem novos desafios e responsabilidades

A edição #1 do MV trazia um provocante texto de abertura intitulado "Será que o alpinismo já atingiu o seu cume?" O excepcional texto do inglês Ivan Rowan questionava a possibilidade do fim do montanhismo, uma vez que as montanhas mais altas já haviam sido conquistadas, colocava em cheque a escalada esportiva como forma de montanhismo, expunha a competição quase velada na escalada e nos ginásios, os problemas de gente demais praticando o esporte e a validade de técnicas como top rope e pink point no encadenamento de vias. Questões éticas e práticas que estavam presentes nas rodas de prosa de escalada ao redor do mundo. É um texto ainda muito atual, uma vez que os temas mudaram mas a essência do esporte continua a mesma de 18 anos. E é este caráter inquisitivo deste primeiro texto que ainda permeia essas páginas, fazendo nossa comunidade pensar a respeito das posturas que adotamos.
Quem pratica esportes de montanha se acostuma a vencer dificuldades - ou desanima e vai logo praticar outro esporte mais tranqüilo. A verdade é que o montanhismo e suas vertentes nos ensinam lições para a vida, e elas nem sempre são doces.
Em setembro de 1990 encaramos o desafio de publicar um informe nacional de escalada e montanhismo. Assim como numa via de escalada, os lances chave e dificuldades não foram poucos nesses muitos anos e nunca deixarão de existir. Falta de verbas, a interminável busca por matérias, imagens e colunistas, noites perdidas em gráficas, olhos queimando no computador, questões éticas e polêmicas que por vezes conflitavam com nossa opinião, tudo isso e muito mais teve que ser superado para este jornal continuar vivo e atingir a maioridade.
Mas essa não foi em nenhum momento uma tarefa solitária, aliás, o montanhismo por essência é um esporte coletivo, então aqui não poderia ser diferente, e esta centena de edições também são resultado do trabalho e esforço de muitas pessoas. Compartilhamos essa marca com pessoas que se esforçam para manter este canal aberto: os anunciantes, colaboradores, assinantes, amigos incentivadores e críticos, que acreditaram e investiram na idéia de que um esporte não evolui nem cresce sem veículos de comunicação que espalhem conhecimento e expressem o que pensa sua comunidade.
Dizem que quando trabalhamos o tempo passa rápido. É verdade. temos nos mantido ocupados e o tempo passou muito rápido. E assim como no número um do MV, temos novos desafios a serem enfrentados na forma de ajudarmos nosso esporte a crescer de uma maneira cada vez mais sustentável e segura. Temos ganas de publicar mais vias de escalada, fazer mais filmes, editar livros, queremos trabalhar mais em prol de um montanhismo mais abrangente, uma escalada mais sustentável, queremos ajudar a abrir novos points e manter os tradicionais sempre abertos para nossa comunidade. Assim analisando, esta edição nos traz mais responsabilidades que a número um, quando poucos acreditavam que iríamos vingar, a exemplo de tantas outras publicações que foram sucumbindo com o passar dos anos, antes e após o lançamento do Mountain Voices. Num mundo cada vez mais cibernético, onde a internet nos sugere uma opção tão mais barata e colorida para expor conteúdos, restaram poucos veículos dirigidos que acreditaram no poder da palavra impressa e conseguiram sobreviver em páginas palpáveis, colecionáveis e que por isso mesmo, são arquivo vivo de um esporte que precisa desta memória para poder se balizar.
Nestas quase duas décadas, nossa mochila se encheu de histórias e bagagem para continuarmos a seguir nosso caminho. E durante este tempo descobrimos que este caminho tem muitas bifurcações maravilhosas e em qualquer delas felizmente há muito ainda a ser percorrido. Ainda existem muitas palavras a serem escritas, pensadas, e sobretudo inventadas, para moldarmos nossa mente e nossa paixão em forma de esporte. Esta é uma história longa, uma jornada que não tem fim, assim como os limites da aventura, que é imensurável. Mas o que importa é que estamos no caminho certo, por vezes mudamos e reorientamos a rota para justificarmos sermos a versão impressa das vozes que ecoam pelas montanhas.
Nos vemos nas trilhas
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Quem começou a escalar a pelo menos 5 anos, como eu, e se entrega a uma paixão como a que este esporte tende a provocar, certamente recorreu a algumas publicações mensais, que depois se tornaram bimestrais, trimestrais e finalmente retiradas da distribuição comercial rotineira, por bancas de jornais. Por muito tempo procurei estas revistas, até reencontrá-las em ginásio de escalada, onde hoje já não se fazem presentes.

Ainda bem que os ávidos por uma boa leitura ainda tem o Mountain Voices.

Parabéns pela centésima edição.

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